Sunday, April 29, 2007

de volta pra minha terra

domingo,
sem dúvida deus é a pessoa mais triste do mundo
em nome da sua bondade suprema
se fazem desde o início as maiores atrocidades
incluindo a ignorãncia decretada dos crentes
a imbecilidade generalizada
pais que espancam os filhos
ódio
continentes sucumbindo a aids
contigentes que odeiam ser nascidos

achei que seria óbvio comentar as guerras.
todas as guerras em nomes de deus.
até parece que cada um quer se mais virtuoso.

todo mundo fala do aquecimento global.
mais desesperante é o comprovado escurecimento global.
os indices de evaporação diminuem drásticamente,
menos raios solares chegam a terra.
nós cozinhamos no suor das nossas paranóias.

Saturday, April 28, 2007

hoje você

voce posta os dentes quebrados?
serve garfos tortos no jantar de natal?
condiciona a temperatura para nunca dormir?

voce gargareja pra não cantar?
confunde gatos para deixa-los deprimidos?
espanta vermes com a flauta
depois os põe pendurados como morcegos no varal?

voce acredita em lemingues?
alguém morde seus pés a noite?
já começou a valsar sozinho na sala antes do jantar?

voce é se é infeliz no casamento porque sua esposa não lava a louça?
ou vive triste e cansada demais porque o seu marido nunca está?
voce quer estar com alguém?

temos todos os lugares por conquistar.

Tuesday, April 24, 2007

we´ve got a situation here

nessas situações, deve-se limpar os rodapés?
digo da sala
digo para não deixar marcas
digo
para passar.
nessas situações em que a bolha da tua propria presença
te estrangeia
ao redor
desconfortável
como um convidado impossível

nessas situações U quÊ
se só restou
voltar a olhar
com olhos à mais?

tateando um fio até o isqueiro
balançando o preço do caminho

falta uma frase, mas todos tememos.

Monday, April 23, 2007

exit music for a film

é como matar zumbi
nosso amor carregado como o cobertor ex-mágico
e um vaso com galhos.
tem um cheiro dentro de nós
mas por fora secou.
dói mais do que o suspeito
dói pra comprovar que nunca foi irreal
mas não perde a majestade de absurdo;
nosso amor bizarro desde o café da manhã,
talvez vendesse nicotina.
é como matar um zumbi do lado errado do peito
é como tinha que ser
é como as crianças espertas fazem
viver.

i´m 9 today

eu sou um bando de crianças mastigando o estômago da dor que há no mundo.
agora hoje.
podemos digerir tudo isso
reciclar nossas teias
e quem sabe,
cagar uma coisa mais colorida.
pelas minhas tripas negras.

Sunday, April 22, 2007

what else is there?

minha iniciação sensorial foi fantasiar sobre o musgo
as vezes passo dois dias escrevendo coisas imprestáveis
enquanto deixo a vida passar trilhos amarelos sobre mim

minha memória fantástica inclue cisternas, amoras
e ataques fatais de abelhas
não me impressiona que apesar de tudo eu guarde a habilidade de dançar sozinha

a única hora em que é muito tarde para amar
é quando acabaram as fichas e te chutaram do salão
e voce vomitou na porta
e deixou cair da fotografia da propria mãe na poça

as vezes eu repito uma música mediocre indefinidamente
só porque ela me lembra uma época da minha vida
em que eu esperava aquela música

alguma coisa a ver com pinheiros e doçura

Friday, April 20, 2007

eu sei tudo sobre agora

hoje em dia vivemos num mundo em que a onça mais linda
a última
morre atropelada duas vezes
agonizando de hemorragia interna
(e eu aposto, neuroses adquiridas)
no asfalto
o que perdura é o asfalto
e os adolescentes tem que matar pela pressão de bem suceder.
pelo sim pelo não.

e foi assim desde sempre
agora só estão acabando os recursos.

ei amor

meu cheiro
tem falta
eu
não sei mais
do seu assunto

as vezes recolhemos coisas do lixo
pra dar risada

Thursday, April 19, 2007

ar comido

eu tenho desculpas pra dois
tetraplégicos martires ou vagabundos
mas também saio por aí enfiando tres dedos em cada narina alheia
ah
convenhamos
você também tem vontade de....
alguém volta e meia

já começo a temer o que eu digo.
eu já recapitulei mais de uma vez.
sou covarde ou prevenida?
dessa vez, eu queria ser aquela que come vidro
pra se desarrazoar.
essa é uma palavra errada.

Wednesday, April 18, 2007

ponto no peito

sozinha na sala nova
todos os setores são iguais
ninguém ligará, sou a leprosa na linha
há reservas especiais
sozinha nas cores velhas
todos os móveis cansados se parecem
ninguém ligará, estou fora de linha
há esperas sem ramais
não tenho medo dos carimbos
através deles repito erros sem assinar
não tenho medo dos horários
através deles me inutilizo sem usar as mãos

eu tenho medo
é desse relógio ponto no peito
tic tac
sem nada contratado
com tudo a perder
tic tac
ele nunca diz onde está
e os atrasos que eu não tive
se arrependerão de mim
eu tenho medo
é desse relógio de peito no ponto
de me agulhar.

Tuesday, April 17, 2007

casinha de boneca com brita

Eu deitava e acordava naquele quarto de madeira pensando em ti.
Cada tábua sabia do que se tratava. Cada farpa de tábua enfiada nos meus dedos. Eu enchia meus dedos desses machucados pra gravar de todos os jeitos.
Que eu pensava em ti. Com a força de algo que foi arvore.
Eu deixava meus tênis de lona baratos na soleira da porta. Eram tênis que se comprava as dúzias. Eu esperava liquidações. Esses tênis sempre sabiam o quanto eu andava de um lado pro outro do mundo pensando em ti. Quando eu voltava pro meu quarto,lambia a sola do tênis, pra roubar um pouco da memória que ele tinha roubado de mim.
Pra te estocar
Coleciono memórias de ti
Eu me despejaria pra virar teu quarto de dormir.

Wednesday, April 11, 2007

o jacarandá

O jacarandá
nunca vi,
nem a mim.
Tenho tantas coisas a dizer
que mastigadas viram um coisa só
de bolha soprável
disforme
e óbvio hálito ruim e blues.
Atrás do prédio explode o sol,
isso pode ser profecia ou conclusão.
Mergulho meus olhos profundamente no sol
Me exponho ao reator sem proteção
Olho tanto até que atrás das pálpebras,
na insanidade da visão
Apareça
o jacarandá,
nunca vi,
nem a mim.

Tuesday, April 10, 2007

sovaco do mundo

Chego em casa,
fedendo um tanto,
passei o dia triste.
Sou o eleitor apático.
Mas beijo o gato,
porque há três dias não me arranha.
Assisto desenhos,
não “tenho que parar de fumar porque tenho filhos”,
se eu tivesse, eles já teriam parado
de andar por aqui.
Certas atitudes nos levam a grupo nenhum.
Assim como sangro demais quando dói meu exoesqueleto imaginário,
passei o dia triste,
e debaixo dos braços ardendo o sovaco do mundo.

Monday, April 02, 2007

terriveis melitas

Sunday, April 01, 2007

constelamento

tenho habilidade em tirar o sutião sem despir a camiseta
pequenas audácias são sempre grandes pudícias
e no meio de todas as minha vontades
de ganhar o mundo à ir ao banheiro
minha alma fica muda,
e me contento com o chocolate
e às desgraças que passaram e que virão
brindar que eu vi primeiro
constelamento avesso premeditado