Tuesday, May 23, 2006

roupas de dentro

Empacoto meus quadrinhos, guardo meus super-heróis, não sei se eu preciso levar junto, não sei se eu quero super poderes e sonhos ao meu redor no mesmo lugar, pelo menos não os mesmo.
I cant get no satisfaction, eu escuto em pj harvey e bjork pq eu sempre me atravesso nas coisas e gostos e gostares, e nunca nos choro com as musicas que a gente escutava junto, prefiro começar a gostar de uma banda que a gente odiasse.
(Eu acendi uma vela vermelha não pq era a única cor que tinha, mas pq só muito amor poderá nos salvar nessa hora, eu e vocês e nós e ele e nós e todos os outros, nessa hora, só com muito amor, temos gotejado).
Mais um malboro forte na boca de quem ainda não sabe cavalgar.
Quem rio, sabe cair pra cima.
Eu fumo e arrumo e bebo chá e conhaque e penso em rezar, mas prefiro esperar com desejo, fazer um espírito santo chamando dentro de mim,
vem vem vem vem vem novo dia, sobre todos nós, poeira pra deixar as pálpebras do peito transparentes,
manifesto segredo.
Em algum lugar ainda tem sempre uma raposa sendo caçada, quem duvida?
E HUMas fogem. Não interessa se são duas ou dez, elas são HUMas, cada uma com uma rota especial no focinho e pouco medo de correr.

Encontro velhos contracheques, cartões de aniversario realmente desejosos, bilhetes com transtornos adolescentes, declarações de renda, contratos de outras casas, cartas não mandadas, comprovantes de votação, passaporte, papel de bala, amor que dói, canhotos de shows, passagens, fotos ganhas ou raptadas. Apesar de não ser, parece tudo do mesmo tempo, lá longe, o que não aconteceu nos últimos três anos parece lá longe, antes de uma outra vida. Esses três anos são mais enciclopédia do que a minha biblioteca, e não vai dar pra encaixotar tudo nunca mais. Eu sei que tudo vai mudar muitas vezes ainda, infinitamente, como é tudo sempre. E que eu vou vestir outras roupas em outros lugares. Mas nesses três anos, eu teci a minha roupa de dentro.

Monday, May 22, 2006

sara lee, for supporting apartheid

eu fingiria que é menos fundo pra quebrar o pescoço, mas eu não morreria,
só mais uma galinha louca de cabeça deitada sobre o proprio ombro andando pelo proprio vale de lástimas emprestadas,
quando chorar é mais fácil pelos outros, quando o rosto pode ser virado do avesso e ainda assim,
não se expor sem os cílios maquiados.
eu poderia propor que é bem mais longe pra dentro e pra baixo, sempre avante, seguindo com um punho á frente, não como lâmpada ou lágrima ou apontando o caminho, mas como o soco que me precede, pra forçar o espaço do meu caminho, eu poderia
mas isso me transformaria numa desvirginadora de carne com mãos

o que eu já sou.
o que eu já sou?

tudo é mais ou menos grave, mais ou menos sério,
quando voce abre os olhos pela manhã e não se desespera ao olhar pra situação do caos institucionalizado em teu nome,
como jesus ou abraão, como o milagre e o saravá, como judas e seu são, como os olhos que não me veem pq estão arregalados sobre as cores que eu emprestei de uma árvore sondando o proprio anoi-te-ver.

quando eu saio de casa pelos meus atalhos, desconto todos os outros que moram em mim pra poder me chamar pelo meu nome de alguma coisa,

minhas armas prediletas são desalgemar, emprestar a passagem, enfiar o indicador no peito do cidadão, dar-lhe três cuspidas de cerejas estourando lá dentro
não balas de vidro nem de carne nem de sopro ou água
não balas
não falas
eu derrubo as cercas pelos vizinhos de paz forçada
e deixo na porta a papeleta das armas.

sara lee, for supporting apartheid, em algum lugar eu tenho certeza de saber o que estou fazendo,
menos onde e como terminar.

play my light.

Friday, May 19, 2006

cartas de manhã, sem horas


vejamos, eu já não tenho sete anos de idade, todos os meus ossos encontraram sua máxima potencia e francamente, estão no auge e não tardam a dar a meia volta.
convenhamos, não há motivos para susto, não se vai a lugar nenhum, eu nunca mais terei 7 anos de idade, tvz nunca tenha tido, as vezes a gente olha pra trás e não tem nada lá.
alguém deveria fazer um filme sobre uma manhã chuvosa. das seis ao meio dia cinza e molhado como certos olhos podem ser mesmo que em outras cores.
assim como existem carros pretos vermelhos, ou amarelos.
existem, preste atenção.
as seis da manhã levantei pra mijar, é outra hora em qq outro lugar, até aqui do meu lado, só em mim agora mijando são seis horas da manhã,
e por enquanto,
já chove, sil ainda não conseguiu dormir, alguem levanta para cuidar das vacas,
alguém deve estar acendendo um cigarro, eu mijo comprido e nunca conseguiria fumar tão cedo, há menos que ainda não tivesse ido dormir.

são seis e cinco, eu já voltei pra cama, quente e úmida, nunca pensei que pudesse ser tão grande a minha cama, seis e oito da manhã eu já sei que vai chover o dia inteiro, vai ser tão ruim te acordar, eu penso em cancelar horas inteiras pelo tempo.
as sete horas, eu acordo e já estava acordada, não sei dizer as coisas por dizer, mas durmo de olhos abertos quando precisa. as sete e três tem neguin correndo pra fábrica e vão descontar os minutos do ponto mesmo assim.
as sete e dez eu existo completamente, pela pele. eu sinto teu cheiro pela pele. eu escuto por lá. como névoa.
escuto um banho, faço chá, amo muito devagarzinho, lavo uma maçã, nunca me esqueço que eu vou embora, me espreguiço, agora eu já acordei nos músculos e na carne.
as sete e meia criança entra na escola ou tah catando um lugar seco e seguro pra matar aula. sozinho, com o melhor amigo ou com uma garrafa. eu sempre matei aula estando em sala.
eu abro toda a janela, é uma manhã gótica, eu devo ficar bonita de preto e violeta. tenho pulsos e plástico no coração suficientes pra isso.
quando eu era pequena, meu amigo imaginário dormia sempre comigo, e as vezes a cama era o único lugar bonzinho o suficiente pra que ele pudesse aparecer de átomos e forma. era quando ele pegava de verdade na minha mão.
de manhã bem cedo, ele deixava de existir, antes que os outros entrassem no quarto, nunca se esqueça, os grandes nunca entendem.
por isso eu estou tão acostumada,
as oito horas da manhã, eu nunca esqueço que matilde sempre atrasa, que eu vou embora, que há um dia comprido, o universo é um bolo de caos da vovó mafalda, sou pequenina, entendo tão pouco quase nada,
eu vou embora, mas as oito e doze, depois de não pensar, eu sinto saudade
amo devagar em prol da verdade e da sobrevivencia, café com leite, fumacinha e coragem, não precisa brigar por mim, manhã.
arrumo a cama.

o resto da história, ainda há pra contar.

Monday, May 15, 2006

manifesto segredo ex-tripado

você sabe o que significa não ter uma pátria dentro da sua propria casa?
a minha sala tem dois metros quadrados em que me sinto soberana,
não mais, nem passos.
será que os moleques loiros da cola dessa minha esquina gorda e bem limpa, sabem dos que se fodem em são paulo? eles escutam mas não ouvem, e quando ouvem, eles, com o perdão da utilização metafori-escatologica, cagam pra isso,
é bonito bandido atirando, é bonito poliça morrer
mas queriam mesmo era um berro, o que fica são os dois canos de presente no natal
o berro que não grita, depois vai explodir a nuca da namorada, sujar o branquinho instituto do cabelo a prazo.
será que esses moleques dezessete anos do bafo e vinho as tres horas da tarde sabem que não são especiais? e que não adianta trocar o canal porque nada vai passar?
fodo meninos de 17 anos mais velhos.
eles trocam as minhas drogas, dentro e fora da vitrolinha amorosa,
eu limpo ouvido com a unha do mindinho e esfrego sem vergonha na manga
é por isso que eles voltam, como uma bando de mosquinhas que ainda não tinha aprendido como fazer o sinal
pras tripas.
será que a minha vizinha sabe que a gripe aviária vem galopando? e será que o paranóico da farmácia sabe que tanto faz se foi inventada ou não,
o certo é que ele vai ganhar um pouquinho de dinheiro, e muita gente pra perder
o certo é que ele não vai mais sair de casa, nem pegar na mão da sua garota, nem abraçar sua avó, enquanto todo mundo vai morrendo de morte de tudo, de saudade e aneurisma, ele vai morrendo de gripe sem vírus.
será que as freiras sabem que tanto faz trepar ou não?
será que joana sabe que não vai ter tempo de dançar no ano que vem?
será que minha mãe sabe me dizer porque foi que eu fiquei assim?
será que o meu coração dói de ruindade ou de ser dois?
será que eu sei?
será que os brasileiros sabem que os bolivianos não sabem que os brasileiros não sabem que no fundo deveríamos ser uma só massa de bolo de terra e melado e coca e leite e fogo
e marronadamente
se glaciar?

será que tanta gente não sabe mesmo que não adianta fingir que nada acontece para além das pontas das mãos?

e você, sabe como recomeçar a viver?
JÁ SABE QUE DESSA VEZ NÃO VAI ADIANTAR SE IGNORAR?

recolhendo meus olhinhos que se espalham pelo taboão da vida,
conjunto de bolitas enlouquecidas
eu caso comigo
molho minha mão com alcool e saliva.

Friday, May 12, 2006

eu sou aquela luz que nunca se me apaga

já faz tempo desde que tive vergonha de ter nascido pela última vez.

admiro a capacidade de meg-gata-branca de ronronar sozinha. meu joelho foi batido e machucado na ultima merda grande que eu fiz, mas tudo bem, já vai passar.

nada me faz sentir melhor do que me sustentar e me contentar.
todos os significados concedidos a essas palavras.

eu não sou menos nem mais bonita do que deveria. aprendi a caber na minha cara, e a mudar o rebolado conforme o tamanho alterado da bunda.

nada me deixa mais em casa do que saber que em alguns lugares do mundo eu sempre serei bem vinda, só porque eu existo, sem insitência, sem permanência, nem horário, pompas, circunferência,
posso apenas chegar depois de cinco anos e usar a toalha de qualquer um.

nada me tranquiliza mais do que chorar a beleza de um caminho na sua 776ª repetição. entender direito, entender de novo, entender um outro. estar sozinha correndo pra mim do mesmo lugar.

o que mais me permanece é mudar, o que garante a manutenção do meus princípios é a maleabilidade das palavras e do coração.

eu posso congelar no ponto de ebulição. e me vaporizar pelo frio.

eu sou de todos os frascos a água.
eu caibo mas não endureço.

nada me acompanha mais forte do que eu
sou aquela luz que nunca se me apaga.

Monday, May 08, 2006

manifendo secreto

eu coço onde
ao mesmo tempo é terrível ao mesmo tempo é perpétuo ao mesmo tempo que cai ao mesmo tempo que encolhe ao mesmo tempo é constante,
ao mesmo tempo
é o particípio mais humano, a partícula mais correta
ao mesmo tempo é espreita ao mesmo tempo não tento ao mesmo tempo é repetido ao mesmo tempo é limpo de mim ao mesmo tempo que tu não lava as mãos, ao mesmo que eu deveria pedir desculpas
mas nunca sei me começar.

Sunday, May 07, 2006

manifesto secretar aos domingos

quando faz silencio, melhor eu vejo as crianças. elas usam o barulho pra se esconder.

a potência do meu sorriso ama as vezes com nublagem, pra não queimar a borboleta.

conduzi mais um pedaço pra dentro, lá muito longe de mim.

faço questão de furar jeová com o cabo da faca. se a minha intenção for pura, qualque deus morerrá pra ser gente.

por mais duvidoso que pareça, todas essas frases contém histórias cujas chaves contém histórias cujas chaves.

Wednesday, May 03, 2006

manifesto segredo


eu peido que nem deus me escuta, tão secreto que sangraria sobre um recém nascido sem ninguém se alarmar.

meu passo arisco tem o peso de qualquer um.

desinventei o ontem pra não voltar amanhã.

tenho três cadáveres que andam comigo mas nunca deixam endereço.

eu sou um perdedor com luz.

jesus gosta mais de mim do que de voces porque os ateus não enchem o saco.

beibe, te cuida de mim nessa vida.