Thursday, August 12, 2010

me pediram que eu dissesse mais,
que algo saísse de mim -

não vá hoje pro mar meu bem
pois bem,
porque a noite vai virar
e amanhã é dia de agourar.
não vá hoje pro mar meu bem
pois bem,
porque a noite vai ventar
abrir a porta pro diabo,
que amanhã vai entrar.

monstros dágua
e de sal
& pastéis de maçã
para o seu animal.

Wednesday, May 19, 2010

poemas bonitos para histórias tristes - perdi a conta

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/05/filho-de-morto-pelo-bope-diz-que-policial-atirou-20-metros-do-pai.html

a secreta, ria.

dança segura,
mente
a morte
inocente -
um hino -
ação da polícia.

uma pensão que não segura foto de natal na parede.
não era uma arma,
era melhor o amigo do filho
com um trabalho nas mãos.

Thursday, January 28, 2010

senhor sal, vc fez dessas coisas....

Senhor Sal, quando eu era adolescente, escrevi um livro, de título comprido e um home-made-blues-rotina pior ainda,
Enfermas linhas de fuga, era o nome da publicação e só estou contando algo tão constrangedor porque tirar a roupa na sua frente, seus 91 anos óbitos e os meus 31 mal cuidados, seria mais assustador para ambos.
Imagino que as suas groupies em geral sejam mais do tipo que lhe dedicam livros e contos e cartas imaginárias ao invés de solicitarem o bom e velho autógrafo nos peitos.
Eu pelo menos te amo o bastante pra desejar que tenhas tido mais dessas, as gostosas, e menos de nós, as chorosas.
Retomo o livro: embaraçoso como tentar escrever sobre qq coisa na adolescência, caixinha de letras onde dei um jeito de enfiar tudo o que eu sentia que sabia ou sabia que sentia, um grande nada que é a escuridão de quem mal aprendeu a limpar a bunda direito
e pretende saber alguma coisa.

A única verdade é que, naquele tempo, meu nome do meio era solidão e ela ficava muito mais gostosa quando eu sentava no terraço da casa dos meus pais e ficava vendo o Rio Taquari correndo bruto do outro lado da rua, e fugia por ti, pela tua mão naquelas palavras que ficava lendo e relendo e mascando com chiclete de alma de água suja.

Meu tal livro embaraçoso, teve sua meia dúzia de leitores amigos, e volta e meia angaria algum curioso. Houve quem imaginasse que havia ali uma proto escritora – não sei, os anos se passaram e acho que adolescentei melhor do que escrevi, mas viver tb é um modo de contar – o certo é que ninguém sabe que há nesse livro uma fantasia erótica de menina toda tua,
que te daria toda a doçura
com qq perversidade escolhida
por uma nova história sua.

Acho que nunca escrevi, nem escreverei, nada tão erótico outra vez. E como nunca fiquei pelada coberta de merengue pra voce, nem fui capaz de deixar claro o que eu queria realmente contar na história (o pudor como um desfavor a arte) me entrego agora, solenemente:
eu queria ter sido sua fatia de torta.

Thursday, January 21, 2010

para os labirintos de Daniel

http://danielsilvestredasilva.blogspot.com/

No dia em que tudo doía, o moleque acordou

mas algo dentro dele não.

Saiu da cama, abriu a cabeça e tirou o que tinha lá dentro.

Ventava na mente;

um ar com ácidos de limão bravo com o próprio amargo,

um ar de saco cheio do próprio vazio,

um ar de vou te pegar

sem tirar os pés do azar.

Nas terras mais ventres do rapaz, o umbigo por dentro fazia-se de serpente

com capa e espada de sutil mentir

que eram as tripas enroladas

o que ardia por ali.




Mas V.I.T.R.I.O.L.* -

sem hora vitrola -

pela tarde se desenrole,

senhora com sonho-vitrola nublado em paz,

que de todos os caminhos que existem

sobra mesmo é o mapa de cavar dentro da casa do peito

um espaço pra vida

que existir até em branco espelho.




O moleque é quem SE viu primeiro.




* “Visita Interiorem Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem”. Ao pé da letra isto significa: “visita o interior da terra e, retificando-te, encontrarás a pedra oculta”.

Sunday, December 20, 2009

DETROIT-CANOAS-AMOR

(foi escrito há mtos tempos. mas é internetinédito. este poema foi concebido para (e é melhor visualizado em) leitura nervosa em sarau)

DETROIT - CANOAS - AMOR

O sutiã é preto eu não troco a três dias e roço meu próprio queixo no ombro
Fico de cachorra pra mim mesma, tocando de quatro, pousando de cavalo abandonado que com a outra mão fuma um cigarro na própria chuva.
Mas faz nada não. Nem asas, nem desaguentar até que agulha, nem despencar os braços do contorno da janela, nem esquecer como foi que eu morri. Nem doer e rir a semana inteira.
(Ela é sempre uma vietnamita encurralada e sem escolha além de entregar a margarida)
Eu com toalhas xadrez e flor na mesa mesmo que seja em beco e mijo ali no canto, pode ser que eu escarre mas não sem retocar o baton e um balão amarelo pra contrair nos músculos e liquens e fungos e bactérias no teu pulmão que eu só conheço de peito, eu prometo, mas que se dane DETROIT - CANOAS - AMOR eu mordo e CONFIRMO
A calcinha é de algodão, manchada de sangue desbotado com furo no furo e coisa.
E EU CONFIRMO MISTÉRIO SAGRADO
NÃO TEM NADA LÁ
Mas tem agora, uma porção de fritas e DETROIT-CANOAS-AMOR
Faz vagabundo que eu poso de biscatinha, boto gilete escondida no sapato
Pra atravessar a cidade quando for muito escuro
Fodo o cabelo e assumo um ponto no concreto, ando de um lado pro outro na rua e arranjo um troco,
Um trocadilho e uma ameaça.
Mas eu CONFIRMO quando não tem comida e quando faz sol e belisca demais, DETROIT-CANOAS-AMOR
Ela é sempre uma adolescente com tetas amêndoa e 37!! cavalheiros dispostos a jardinagem.
Porque eu uso colírio, porque tu usa colírio?
Se não for isso é bem pior,
Desculpe, eu não estava chorando
A mão está limpa, unhas cortadas ontem, mas geladas,
hoje não dá
É melhor tentar olhando pro teto.
O que é suficiente não tem estrelas, o que é suficiente não tem poesia nem inferno ou céu tudo passou tudo passou, é completo de bem e mal, a minha lagartixa morta sumiu da sacada, o que é suficiente passeia de submarino na loucura e não mata, o que é suficiente me suportará até o fim destes dias porque eternidade é só uma coisa que dura além da morte.
DETROIT-CANOAS-AMOR
DESTRÓI TE ME COMA AMOR
DEVORE COSTURA AMOR
CALÇADA BICAMA AMOR
LANCHEIRA ESPANCA AMOR
BIGORNA ATROPELA AMOR
AS MINHAS GENGIVAS DOEM
Carne queimada, biquíni imaginário
O embrulho tostando escancara as pernas
(Entra por ali sol)
abro a boca
(me engula pelo meio)
não fecho os olhos, tenho um ponto fixo de inflamação nessa lâmpada perversa
ao sol, nada escapa.
Já não enxergo, as retinas derretidas escorrem como sardas de ácido visionário.
TOQUE NO SEU AMOR
NÃO ENCOSTE EM MIM
MAS ENFIE O DEDO NO SEU AMOR
Eu acredito e, enquanto não me provarem o contrário nesse mundo de ciências trevosas, eu vou continuar acreditando em mim contigo.
E NAS POLIANAS PERVERSAS/
E NAS RAVES COM BANJOS/
E NAS COBERTAS DOS OUTROS/
E NA LIBÍDO GLACIAL/
E NOS PECADOS LEGÍTIMOS/
E NA PUREZA PRECÁRIA/
E EM DETROIT-CANOAS-AMOR,
Fazer uma casinha cor de conta e cortinas imaginárias e os dias que chuviscam bonzinhos e uma macieira e todo o caos do mundo na porta.

Saturday, November 21, 2009

acho que todos também

minha pequena.
chove tanto,
que dentro de casa estou em outro país.
ontem sonhei com a onda gigante outra vez.
se bem que eu não morria, o que dói mais.

ouço barulhos na garagem, além da chuva
e me pergunto
será que já? enlouqueceu o mundo?

minha pequena, chove tanto que eu e bon iver pensamos em voce.

não sangre, não chore demais, pensamos em voce. não sangre, eu sangro também.
o amor é tão magro que eu sangro também.
todos querem ter alguns gatos. ninguém sabe sobre se ferir porque o espaço é pequeno.
não
sangre
demais.

eu queria. pequena minha amiga, uma força que te salvasse
da mulheridade envolvida
nesse instante em que eu não posso te pegar.
eu queria que acreditassemos naquele pra quem oro,
Caos,
pra te salvar.

os que partem e os que ninguém vem esperar.
os que dançam sobre a própria sina de não restar,
pequena,
só choras
porque estamos todos lá.
de qualquer lado,
ninguém vem nos esperar.

não estou pegando na tua mão,
mas eu sangro também.

Tuesday, November 03, 2009

quasebem

Antes de entrar na cidade, estaciono o carro, abro a blusa, afasto o curativo (feio, suado, sujo, frio e sem açúcar)
e a ferida no peito está quase bem.
Não voltaria pra casa se ela ainda estivesse sangrando. Não saberia chegar estragada.

Mas sei que se te mostrasse isso aqui, boquinha ínfima de pus cercada de cicatrização por todos os lados,
voce jamais acreditaria que eu morri.
E diria,
"cabeça de ovo, é só uma espinha".

Só por garantia, não vou te mostrar. Qualquer uma das vias seria mentira. Contar ou não o que aconteceu em mim, nada valeria o que há.

"Quero um relato preciso do seu fim-de-semana", voce vai dizer em algum momento de algum dia de alguma semana ainda esse ano.
Eu te contarei sempre uma outra história, uma melhor pra voce gostar de acreditar e esquecer e acreditar. É o que funciona entre nós. Há quem arrume a casa e troque as flores e bata as almofadas e sacuda os tapetes e
perfume os lembretes,
todos os dias de manhã.
Nós contamos histórias melhores de comprar.

Vou começar com "voce não vai acreditar no que me aconteceu".
de outra vez será algo "nao conta pra ninguém". E "tah, mas pelo amordedeus não grite". E "nada demais". E num dia especialmente azul
eu vou começar a história dizendo "ah, na verdade o tempo inteiro eu só pensava em voltar" - pedacinho bem emotivo e irracional do que eu de fato senti.

É início da tarde de um feriado nacional no meio do verão. Dirigindo contra o sol, ilusão de olhos apertados, a rua principal parece um desfile de prédios baixos com cores histéricas em chamas.
Eu sei que o vidro queima mesmo que pareça suportar. Eu sei que há pele nossa nas moléculas de cada vidraça dessa cidade sol demais. Eu sei que tanto faz, fritamos em nós ou acolá.

Paro na mercearia das trigêmeas. Elas sempre assam o pão na hora mais quente do dia.
Estão com as saias levantadas, amarradas em torno da cintura; são muito muito magras e ainda assim suam em bicas. Me pergunto de onde dentro daquelas criaturas secas brotam tanta água. Nas têmporas pequenas cachoeiras.
Enquanto penso no que quero elas discutem - pra variar - o seu nascimento.
-Parece que eu não queria sair;
-Já eu saí cedo demais;
-Me bateram pra eu chorasse;
-Dizem que nasci olhando pra trás.
Até acho bonito que elas se contem e se escutem como se não tivessem estado lá;
como se tivessem anos e milhas de distância,
como se tivessem outros pais.
Todos nós tentando fazer sentido e diferença. Por uma hora, quiçá.
Na dúvida peço cervejas. Sem escolha, a que estiver gelada. Sei que perco um pouco o respeito toda a vez que assumo não ter marcas preferidas, sempre opto pelo conforto. Sei que me perco por ali.

Sigo pra casa com o fardinho gelado no meio das pernas. Nada a ver com prazer, puro sistema de refrigeração. Se o frio circular pelo meio das coxas, subir pela base do corpo, entrar pelos buracos mais óbvios e explodir no umbigo
sei que a cabeça chegará fresca. Me lava e me basta. Lembro que uma amiga falava da síndrome da buceta bêbada. Pra ela não era engraçado; pra mim, me refrescando por baixo e indo pra casa, parece uma boa piada.
Até ouvir Johnny Cash cantando Desperado, indo pra casa, de triste tem nada - you betta let somebody love you before is too late.

Muito antes de ver o telhado da casa e o topo seco dos plátanos que já foram deuses
sinto teu cheiro no ar. Na verdade é o meu suor mudando de salgado pra areia, depois verde.

Passo a curva e passo a ponte e passo o posto e vem a casa. Cercada de terra vermelha por todos os lados. Queria poder dizer que esse não-pátio, que esse vazio de poeira sangrenta tem o meu nome escrito. Mas que nada. Aí não tem nada meu. Como nem as cortinas da casa. Como nem as floreiras tentando criar cactos da varanda. Como nem o que tiver na geladeira. Nada meu.
Só quando estaciono, desço,
te procuro
&
te busco
& te acho - brincando de mangueira ó mulher feita - cercada de lama rubra por todos os lados, como um porco no banhado, só os dentes limpos e no fundo nem mesmo lá,
sua alma suja eu te digo,
e sorrio,
pra que voce possa chegar correndo e me abraçando contaminar o que houver de "puro ódio" em mim.
Suja, suja, monte em mim sua suja - quando termino de falar, já afundei contigo na loucura da terra.
Suas coxas estão geladas, você diz.
"Demorei demais pra chegar. Mas já estou esquentando."
A gente ri. Nunca vou te contar que eu morri e voltei de lá.
-Como foi o seu fim-de-semana?
-Morri e voltei de lá - Digo isso mto séria, como se fosse o curso do rio.
-Eu te amo quando voce mente pra me agitar.
-Mmm - a abraço. Deitadas na poça de lama do fundo das nossas vidas - o que vamos fazer com esse céu?
-Esperá-lo rachar.
Rimos muito mais do que valia a piada.
Todas as janelas da casa explodem porque a gargalhada é solar.

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